harry g. frankfurt e o propósito da vida



No livro "As razões do amor", o filósofo Harry G. Frankfurt escreveu:

"Aristóteles observa que o desejo é 'vazio e vão', a menos que 'haja, nas coisas que fazemos, algum fim que desejamos por si mesmo'. Não nos basta simplesmente ver que é importante para nós alcançar certo fim porque ele nos facilitará o alcance de um outro fim. Não podemos dar sentido àquilo que fazemos se nenhum de nossos propósitos tem importância, exceto em virtude de nos capacitar a alcançar outras metas.Deve haver, 'nas coisas que fazemos, algum fim que desejamos por si mesmo'.
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É interessante questionar por que uma vida na qual a atividade é localmente dotada de propósito, mas fundamentalmente desprovida de desígnio - isto é, ela tem um propósito imediato, mas não um fim último -, deve ser considerada indesejável. Nessa perspectiva, o que haveria necessariamente de tão terrível em uma vida vazia de significado? Penso que a resposta é: sem fins últimos, não encontraríamos nada de verdadeiramente importante, nem como fim, nem como meio. Para nós, a importância de tudo dependeria da importância de outra coisa. Não nos interessaríamos realmente por nada de maneira inequívoca e incondicional.
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O raciocínio prático tem a ver, ao menos em parte com o planejamento de meios efetivos para alcançar nossos fins. Para que ele tenha uma base e uma infra-estrutura estabelecidas de modo adequado, é preciso alicerçá-los sobre fins que consideramos mais do que simples meios de obter outros fins. Deve haver coisas que valorizamos e buscamos por si mesmas. Agora, não é difícil entender como algo passa a ter valor instrumental. Basta essa coisa contribuir direta e efetivamente para o cumprimento de uma determinada meta. Mas como é que, para nós, as coisas chegam a ter um valor independente de sua utilidade na consecução de outras metas? De que maneira aceitável podemos satisfazer a nossa necessidade de fins últimos?
Creio que o amor satisfaça a nossa necessidade. É amando certas coisas - seja qual for a causa - que nos ligamos aos fins últimos por mais que um simples impulso acidental ou por uma mera opção deliberada e voluntariosa. O amor é a fonte originária do valor final. Se nada amássemos, nada teria mérito intrínseco e definitivo para nós. Não haveria nada que fôssemos levados a aceitar como fim último."