dalai-lama e a religião



No livro "Uma ética para o novo milênio", Sua Santidade, o Dalai-Lama, escreveu:

"Meus encontros com inúmeros tipos de pessoas pelo mundo afora, porém, ajudaram-me a perceber que há outras crenças e outras culturas que, tanto quanto as minhas, podem fazer com que os indivíduos levem vidas construtivas e satisfatórias. E mais, cheguei à conclusão de que não importa muito se você tem ou não uma crença religiosa. Muito mais importante é que seja uma boa pessoa.

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Na realidade, creio que há uma importante distinção a ser feita entre religião e espiritualidade. Julgo que a religião esteja relacionada com a crença no direito à salvação pregada por qualquer tradição de fé, crença esta que tem como um de seus principais aspectos a aceitação de alguma forma de realidade metafísica ou sobrenatural, incluindo possivelmente uma idéia de paraíso ou nirvana. Associados a isso estão ensinamentos ou dogmas religiosos, rituais, orações, e assim por diante. Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano - tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia - que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros. Ritual e oração, junto com as questões de nirvana e salvação, estão diretamente relacionados à fé religiosa, mas essas qualidades interiores não precisam estar. Não existe, portanto, nenhuma razão pela qual um indivíduo não possa desenvolvê-las, até mesmo em alto grau, sem recorrer a qualquer sistema religioso ou metafísico. É por isso que às vezes digo que talvez se possa dispensar a religião. O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas.

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Pode-se dizer que  a característica que unifica as qualidades que chamei de espirituais seja um certo grau de preocupação com o bem-estar dos outros... Assim, segundo essa descrição, a prática espiritual envolve, por um lado, agir preocupando-se com o bem-estar dos outros e, por outro, acarreta a nossa própria transformação, de modo que nos tornamos mais prontamente dispostos a fazê-lo. Falar sobre prática espiritual em termos diferentes desses não tem sentido.