causas do sofrimento


São muitas as causas do sofrimento; algumas são naturais (relacionadas à insatisfação de necessidades e à emoções naturais negativas), mas a maioria é decorrente de atitudes assumidas pela própria pessoa, geralmente frutos do não-eu.

Pelo fato de ter consciência, o ser humano tem o livre-arbítrio e não se limita à reações automáticas. Entretanto, esta prerrogativa, que existe para facilitar a sobrevivência e a evolução, também pode ser causa de sofrimento. O ser humano nasce com necessidades, mas por ter consciência ele pode criar desejos; ele nasce apto a ter emoções naturais, mas por ter consciência, ele pode adaptar emoções. E é por ter desejos incompatíveis com a sua realidade que ele é levado a adaptar emoções a eles. Os principais desejos incompatíveis são:

  1. Desejo de perfeição - não aceitação de suas limitações. O ser humano é perfeito como criação e tem a perfeição espiritual como objetivo; cada pormenor favorece o desenvolvimento de uma ou mais virtudes. Entretanto, por ter o livre arbítrio, ele não é infalível, está sujeito a erros. A sabedoria está em: (a) buscar fazer as coisas certas, (b) reconhecer e aceitar como naturais os próprios erros, (c) reparar os erros quando possível, (d) aprender com os erros e (e) buscar fazer as coisas certas.

  2. Desejo de poder - não aceitação das limitações externas. O livre-arbítrio do ser humano sempre estará limitado pelas circunstâncias. A sabedoria está em buscar fazer as coisas certas, face às circunstâncias.

  3. Desejo de eternidade - a morte não é algo para se querer, para não querer ou para temer. O mesmo se pode dizer a respeito da juventude eterna. A degradação do corpo com o passar do tempo é uma realidade que não admite questionamentos. A sabedoria está em cuidar do corpo tendo como foco a alma, que é eterna e irá evoluir para todo o sempre. Além do que, as mudanças do corpo humano ao longo da vida favorecem o desenvolvimento das diferentes virtudes.
  4. Desejo de passado - foco no passado. Não está ao alcance do ser humano perpetuar os momentos bons do passado ou garantir que os momentos ruins não se repitam. A pessoa não pode se apegar à lembranças. Ter este tipo de desejo é querer o impossível e, portanto, geralmente tem reflexos negativos no presente.

  5. Desejo de futuro - foco no futuro. Não está ao alcance do ser humano viver no futuro. A consciência faculta ao ser humano antever e sentir as possibilidades de futuro, mas ele não pode viver em função de previsões, não pode se apegar ou ter aversão à expectativas. Ter este tipo de desejo é querer o impossível e, portanto, geralmente tem reflexos negativos no presente, onde existe vida de fato.

A perfeita identificação do sofrimento é o primeiro passo para quem quer dar a ele o tratamento correto: é preciso saber onde dói e porque.

As principais causas de sofrimento são:

  1. Limitações naturais - desde quando nasce o ser humano está sujeito a doenças, acidentes e à morte. A não aceitação dessas limitações é uma grande causa de sofrimento.

  2. Limitações sociais - a vida em comunidade impõe limites à vontade e cria obrigações para cada um de seus membros em prol do bem coletivo. Quando a pessoa age como se os outros devessem se submeter à sua vontade, ela o faz em desacordo com a realidade, e sofre.
  3. Mania de perfeição - ser perfeito não está ao alcance do ser humano; ele é perfeito apenas como criação. A não aceitação das próprias limitações leva ao desenvolvimento dos sentimentos de culpa, arrependimento e/ou vergonha, o que causa grande sofrimento.

  4. Impossibilidade de agir da maneira correta - nem sempre o contexto permite que o indivíduo tome a melhor decisão e haja da maneira que ele acha a mais correta; o que gera sofrimento.

  5. Falta de integridade - quando a pessoa age em desacordo com a sua essência (instinto e intuição) ela sofre.
  6. Emoções adaptadas - a criação de emoções não compatíveis com o instinto e/ou com a intuição tende a perpetuar o sofrimento.

  7. Escravidão - a pessoa ser continuadamente impedida de agir de acordo com a própia vontade, ou ser induzida ou coagida a contrariá-la é uma das maiores causas de sofrimento.

  8. Obsessão pelo objetivo ou pela ação - a ação é um meio para se atingir um objetivo. Quando a pessoa foca de forma obsessiva o objetivo, ela compromete a escolha e a realização das ações, o que dificulta atingir o objetivo. Quando a pessoa foca de forma obsessiva a ação, ela passa a tratar a sua execução como um fim, o que dificulta atingir o verdadeiro objetivo. De tanto querer, a pessoa acaba por ficar mais distante do que quer, e sofre.
  9. Estado emocional - a pessoa feliz acredita que o sofrimento é passageiro e sofre menos (ela minimiza os efeitos da ação que está lhe causando sofrimento atualmente), enquanto a pessoa infeliz acredita que a desventura é eterna e sofre mais (ela maximiza os efeitos da ação que está lhe causando sofrimento atualmente). A pessoa feliz vê as coisas/fatos pelo lado positivo, enquanto a infeliz  foca no negativo e acentua o sofrimento. A pessoa feliz vê o futuro com otimismo e busca com perseverança superar as adversidades, ao passo que a infeliz o vê com pessimismo, não vê motivos para encarar as dificuldades e perpetua o sofrimento. O simples fato do homem ser um ser com necessidades continuadas não implica em sofrimento (em alteração do estado emocional); o que gera sofrimento é (1) a insatisfação continuada da necessidade e/ou (2) a expectativa de que ela não será atendida.

  10. Carga emocional - quando a pessoa vive com a expectativa de que uma experiência negativa do passado pode se repetir a qualquer momento, mesmo quando não há qualquer evidência disso, ela perpetua o sofrimento, pois mantém aceso o sentimento que o expressa.

  11. Livre-arbítrio - em função da liberdade de escolha e das experiências vividas, a pessoa pode eventualmente ter pensamentos e sentimentos conflitantes ou incompatíveis. Face a esta divergência, a pessoa pode se sentir perdida e até culpada por ter tido este pensamento ou sentimento, o que lhe causa sofrimento. Para evitar/reduzir sofrimento, a pessoa deve ter sempre em mente que a divergência pensamento/sentimento é inerente ao livre-arbítrio e configura uma possibilidade de aprendizado, de autoconhecimento, de evolução na direção do pensamento/sentimento corretos.

  12. Filosofia de vida equivocada - quando a pessoa não tem uma filosofia de vida adequada ela tende a achar que a vida não faz sentido, que está neste mundo para sofrer, que não há pelo que lutar, que a felicidade é impossível e, consequentemente, sofre.

  13. Visão equivocada da realidade - quando a pessoa não tem uma visão da realidade compatível com a sua filosofia de vida, as suas ações tendem a não ter o resultado esperado e ela sofre, por não ter o resultado desejado e por não vislumbrar uma solução para o problema.

  14. Hiperatividade - o excesso de atividades com demanda externa (geralmente relacionadas à produção e ao consumo e/ou a usos e costumes nunca questionados) prejudica (ou até impossibilita) o autoconhecimento e a evolução , pois (1) a pessoa nunca tem um tempo só dela, um tempo para pensar a vida e (2) a pessoa não vive de fato o momento, pois a próxima atividade já ocupa e demanda a sua mente.

  15. Apego ou aversão - o apego e a aversão estão diretamente relacionados à dependência criada pela própria pessoa de que algo ocorra ou não ocorra para que ela possa ser feliz e, por ser dependente, ela sofre.

  16. Instinto e intuição - agir em desacordo com a essência é uma imensa (talvez a maior) causa de sofrimento, pois, nesse caso, a pessoa sente que deveria estar agindo de maneira diferente (embora geralmente não saiba como) e, adicionalmente, acha que nunca vai agir como deve, que é uma causa perdida.

  17. Inconsciência - quando o desenvolvimento da consciência não se dá de forma compatível com a recuperação do estágio evolutivo, a pessoa tem deficiências na percepção do contexto, o que a leva a tomar decisões equivocadas, e ao sofrimento. A consolidação da faceta homem camaleão, por distorcer a percepção da realidade, tem as mesmas consequências.

  18. Falta de consciência do outro - a pessoa que não tem consciência das necessidades do outro tende a ficar com raiva dele, desprezá-lo ou espezinhá-lo quando, direta ou indiretamente, ele interfere na satisfação de suas necessidades. Neste caso, a falta de consciência leva à não aceitação das limitações do outro e, consequentemente, a pessoa sente raiva/desprezo em situações onde a compaixão/solidariedade seria o sentimento adequado.

  19. Passado e futuro - há pessoas que não vivem o momento presente, pois estão fixadas no passado ou no futuro. O passado é experiência e o futuro é uma possibilidade real, não podem ser desprezados; mas sofre quem esquece que só existe vida no presente.

  20. Diferenças - há pessoas que não aceitam as diferenças e querem ser iguais às outras e/ou querem que as outras sejam iguais a elas e, por desejar o impossível, a pessoa sofre.
  21. Os outros - na maioria absoluta das vezes as causas de sofrimento estão na própria pessoa ou se originaram dela. Como regra, o outro só faz a pessoa sofrer se ela permitir, se ela não assumir a atitude adequada. Entretanto, ocasionalmente, a comunhão (ou conflito) de interesses, aliada à divergências no Ser e à falta de consciência do outro, pode gerar situações onde simplesmente não exista uma boa opção e, consequentemente, o sofrimento será inevitável, embora ainda possa ser minorado com a atitude adequada.

A evolução se dá pelo amor e pelo sofrimento. Devemos buscar maximizar o amor e minimizar o sofrimento. Todo sofrimento é útil, o que não significa que deva ser buscado. Com sabedoria, a pessoa pode evitar criar sofrimentos desnecessários e minimizar a intensidade daqueles inevitáveis. O sofrimento é ao mesmo tempo uma lição e um desafio natural, pois foi apresentado pela vida (não foi uma escolha), carrega uma mensagem que deve ser assimilada e deve ser vencido.

Conhecidas as causas do sofrimento, a pessoa deve buscar extinguir as que estiver ao seu alcance fazê-lo e aceitar as demais.

osentidodavida pode ser AZUL