carl rogers e a aprendizagem significativa
No livro "Tornar-se Pessoa", o psicólogo Carl Rogers fala sobre aprendizagem significativa na educação:
"O
que aqui se apresenta é uma tese, um ponto de vista sobre as
implicações que a psicoterapia tem para a
educação.
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Por aprendizagem significativa entendo aquela que provoca uma
modificação, quer seja no comportamento do
indivíduo, na orientação da ação
futura que escolhe ou nas suas atitudes e na sua personalidade.
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Vou concluir rapidamente essa descrição da terapia,
dizendo que é um tipo de aprendizagem significativa que ocorre
quando cinco condições estão reunidas:
-
O cliente sente-se confrontado com um problema sério e significativo.
-
O terapeuta é uma pessoa congruente na relação, capaz de ser a pessoa que é.
-
O terapeuta sente uma consideração positiva incondicional em relação ao seu cliente.
-
O terapeuta sente uma compreensão empática aguda do mundo privado do cliente e comunica-lhe essa compreensão.
-
O cliente apreende num grau maior ou menor a congruência, a aceitação e a empatia do terapeuta.
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Qual é o significado dessas condições aplicadas
à educação? Sem dúvida que um professor
daria uma resposta melhor do que a minha, a partir da sua
própria experiência. Sugiro, no entanto, algumas dessas
implicações.
O contato com os problemas:
Em
primeiro lugar, pode dizer-se que se verifica mais facilmente uma
aprendizagem significativa quando as situações são
percebidas como problemáticas.
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O estudante que segue um curso universitário normal, de modo
particular as aulas obrigatórias, está preparado para
encarar o curso como uma experiência em que sua expectativa
é manter-se passivo ou cheio de ressentimento, ou as duas coisas
ao mesmo tempo, uma experiência cuja ligação com os
seus próprios problemas ele muitas vezes não vê.
No entanto, minha experiência mostrou-me igualmente que, quando
uma turma normal da universidade encara o seu curso como uma
experiência que pode utilizar para resolver problemas que os
afetam, é espantoso o sentimento de alívio e o progresso
que se consegue.
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Por conseguinte, a primeira implicação no domínio
da educação poderia ser a de permitir ao aluno, seja em
que nível do ensino for, estabelecer um real contato com os
problemas importantes da sua existência, de modo a distinguir os
problemas e as questões que pretende resolver.
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Creio que ficou bem claro desta minha descrição da
terapia que uma importante implicação para a
educação seria que a tarefa do professor fosse criar um
clima nas aulas que facilitasse a ocorrência de uma aprendizagem
significativa.
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A autenticidade do professor:
A
aprendizagem pode ser facilitada, segundo parece, se o professor for
congruente. Isso implica que o professor seja a pessoa que é e
que tenha uma consciência plena das atitudes que assume. A
congruência significa que ele aceita seus sentimentos reais.
Torna-se então uma pessoa real nas relações com
seus alunos.
Pode mostrar-se entusiasmado com assuntos de que gosta e aborrecido com
aqueles pelos quais não tem predileção. Pode
irritar-se, mas é igualmente capaz de ser sensível ou
simpático. Porque aceita esses sentimentos como seus, não
tem necessidade de impô-los aos seus alunos, nem insiste para que
estes reajam da mesma forma. O professor é uma pessoa,
não a encarnação abstrata de uma exigência
curricular ou um canal estéril através do qual o saber
passa de geração em geração.
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Uma outra conseqüência para o professor é que a
aprendizagem significativa é possível se o professor for
capaz de aceitar o aluno tal como ele é e de compreender os
sentimentos que ele manifesta. Retomando as condições
terceira e quarta da terapia que especificamos, o professor que
é capaz de uma aceitação calorosa, que pode ter
uma consideração positiva incondicional e entrar numa
relação de empatia com as reações de medo,
de expectativa e de desânimo que estão presentes quando se
enfrenta uma nova matéria, terá feito muitíssimo
para estabelecer as condições da aprendizagem.
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Os recursos disponíveis:
Existem
muitos recursos do conhecimento, de técnicas, de teorias, que
constituem matéria-prima a ser utilizada. Julgo que o que disse
sobre a terapia sugere que esses materiais, esses recursos, devem ser
postos à disposição dos estudantes e não
impostos.
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Se o professor adotasse o ponto de vista que venho tratando, ele
quereria provavelmente pôr-se à disposição
da turma, pelo menos das seguintes maneiras:
O professor procuraria permitir aos alunos conhecerem a
experiência específica e os conhecimentos que possui num
determinado domínio, possibilitando-lhes o recurso à sua
competência. Não gostaria, porém, que eles se
sentissem obrigados a utilizá-lo desse modo.
Desejaria que eles soubessem que sua própria forma de pensar
sobre esse campo, de organizá-lo, estaria à sua
disposição, mesmo através de uma
exposição oral, se o desejassem. Gostaria que isso fosse
considerado uma oferta, que tanto pode ser aceita como recusada.
Procuraria tornar-se conhecido como um provedor de recursos, O
professor estaria disposto a considerar as possibilidades de conseguir,
como fonte de referência, qualquer informação que
um indivíduo ou todo o grupo seriamente pretendesse para
aumentar seus conhecimentos.
Ele procuraria fazer com que a qualidade da sua relação
com o grupo fosse tal que seus sentimentos estivessem à
disposição de todos, sem os impor e sem se tomarem uma
influência restritiva. Poderia assim compartilhar o entusiasmo e
a excitação da sua própria aprendizagem, sem
insistir para que os estudantes seguissem os seus passos; as atitudes
de desinteresse, de satisfação, de espanto ou de agrado
que adotasse frente às atividades individuais ou de grupo
não se tornariam recompensas ou punições para os
alunos. Ele gostaria de poder dizer, simplesmente, de si para si mesmo:
“Não gosto disso”, e gostaria que o aluno pudesse
também dizer com igual liberdade: “Mas eu gosto.”
Desse modo, sejam quais forem os recursos de ensino que forneça
—um livro, uma sala de trabalho, um novo aparelho, uma
oportunidade para observar um processo industrial, uma
exposição baseada no seu próprio estudo, um
quadro, um gráfico ou um mapa, ou as suas próprias
reações emocionais ele sentiria que essas coisas são oferecidas para serem usadas se
forem úteis ao aluno, esperando que sejam encaradas como tal.
Não pretende que elas sejam guias, expectativas, comandos,
imposições ou exigências.
Ofereceria ele mesmo todos os outros recursos que pudesse descobrir, para serem utilizados.
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O motivo fundamental:
Depois
disto fica bem patente que o professor confia basicamente na
tendência auto-realizadora de seus alunos. A hipótese de
que partiria é de que os estudantes que estão em contato
real com os problemas da vida procuram aprender, desejam crescer e
descobrir, esperam dominar e querem criar. Sua função
consistiria no desenvolvimento de uma relação pessoal com
seus alunos e de um clima nas aulas que permitissem a
realização natural dessas tendências.
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Se
valorizamos sobretudo a aquisição de conhecimentos,
podemos afastar como inúteis as condições a que me
referi, uma vez que não se torna evidente que elas promovam um
grau mais elevado ou uma extensão maior de conhecimento fatual.
Podemos então preferir medidas do gênero das que, conforme
compreendi, são defendidas por um certo número de membros
do Congresso: criar escolas técnicas para cientistas segundo o
modelo das academias militares. Mas se dermos o devido valor à
capacidade criadora, se deplorarmos o fato de todas as nossas
idéias fecundas em fisica atômica, em psicologia e noutras
ciências provirem da Europa, então talvez queiramos tentar
formas que facilitem a aprendizagem que mais promete a liberdade de
pensamento. Se dermos valor à independência, se nos
sentirmos incomodados pela crescente conformidade dos conhecimentos,
dos valores e das atitudes a que o nosso sistema conduz, então
talvez queiramos estabelecer condições de aprendizagem
que favoreçam a originalidade, a autonomia e o espírito
de autoiniciativa na aquisição da aprendizagem."