o eu

O eu é uma necessidade do homem racional. O homem material e o espiritual apenas são, mas o racional precisa crer para ser, ele precisa desenvolver um eu para existir.

A pessoa só é naquilo que tem continuidade no tempo e no espaço. Portanto, ela só é na sua essência e no que estiver de acordo com ela, pois tudo o mais é passageiro/descontinuado, e no tocante a isto a pessoa não é, apenas está. O instinto tem sua continuidade na espécie (especialmente nos descendentes); a intuição a tem no espírito do indivíduo. O homem material é instinto; o homem espiritual é intuição; o homem racional só é naquilo que for expressão fiel do instinto e da intuição.

Tal como os bichos, os homens material e espiritual nascem prontos para a vida; já nascem sendo, pois o instinto e a intuição sempre lhes dirão tudo o que eles precisam saber. Eles são essencialmente reativos, vivem o momento. O homem racional, por seu lado, precisa se autoconstruir para exercer a sua função; e precisa fazê-lo a partir das manifestações dos homem material e espiritual, sob pena de fracassar na sua missão: dar proatividade ao ser humano,  dar a ele a capacidade de modificar a ação (e a reação) quando for necessário para que a evolução aconteça.

A rigor, o Eu deveria ser fruto apenas da intuição, pois apenas nela o indivíduo tem continuidade. Entretanto, é preciso considerar que nesta vida o indivíduo é fruto da união do instinto com a intuição e que, portanto, não é possível vivenciá-la de forma satisfatória quando se busca a anulação ou a submissão de um deles. A harmonia entre eles deve ser a regra; a única predominância admissível é a decorrente do estágio evolutivo, pois desta não resulta desarmonia, visto que o homem nasce perfeito. Entretanto, durante o desenvolvimento, em função das experiências/realidade, esta harmonia pode ser quebrada. Cabe ao homem racional recuperá-la e mantê-la; cabe a ele harmonizar instinto, intuição e realidade e promover a evolução.

Devido às suas próprias limitações e as impostas pela realidade, o ser humano desenvolve o seu eu conforme a seguir:

  1. "eu" - fruto de uma percepção e/ou conhecimento de si equivocados em função de propensões incompatíveis com a essência e/ou ignorância - configura o não-eu, e se refere à faceta homem camaleão.
  2. "Eu" - decorrente de uma percepção e conhecimento fragmentado de si, mas compatível com a essência. O Eu é verdadeiro por ser fruto de uma percepção e conhecimento corretos da essência, embora não em sua plenitude.
  3. "EU" - fruto de uma percepção e conhecimento pleno da essência.

Considerando que o ser humano tem a capacidade de percepção limitada (inclusive de perceber a si mesmo), o Eu nunca será pleno; o ser humano nunca terá um perfeito conhecimento de si.

O Eu é função unicamente da evolução da essência (que se dá passo-a-passo); ele não é função do tempo ou do espaço; a pessoa é independentemente do tempo ou do espaço; o tempo e o espaço não são definidores do Eu. Por não ser expressão da essência, o não-eu tende a se alterar no tempo e no espaço.

A essência é evidenciada (aflora) por meio das emoções. É mediante a análise/avaliação dos sentimentos que o homem racional conhece/define os atributos do eu. Os atributos do não-eu são frutos de propensões não naturais, incompatíveis com a essência, decorrentes de adaptações ao ambiente e da ignorância. Durante o crescimento do indivíduo, a essência vai progressivamente sendo evidenciada, e o Eu conhecido. Entretanto, só na fase adulta, quando o indivíduo já está totalmente desenvolvido, há todas as condições necessárias para o seu conhecimento, pois na infância e adolescência o instinto tende a prevalecer sobre a intuição na determinação das reações emocionais, o que faz com que esta fique pouco evidenciada. Mediante o desenvolvimento do pensamento correto, o homem racional induz a mudanças positivas na forma como o homem material percebe a realidade, e assim promove mudanças na influência do instinto (e na emoção), o que possibilita/favorece o desabrochar do homem espiritual, e o conhecimento do Eu.