andré comte-sponville: a moral e a sabedoria
No livro "Apresentação da filosofia", o filósofo André Comte-Sponville escreveu sobre a moral:
"Sua
moral? O que você exige de você mesmo, não em
função do olhar alheio ou de determinada ameaça
exterior, mas em nome de certa concepção do bem e do mal,
do dever e do proibido, do admissível e do inadmissível,
enfim da humanidade e de você mesmo. Concretamente: o conjunto
das regras a que você se submeteria, mesmo que fosse
invisível e invencível.
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Solidão e grandeza da moral: você vale única e
exclusivamente pelo bem que faz, pelo mal que se proíbe fazer,
sem nenhum outro benefício além da
satisfação de fazer o bem - mesmo que ninguém
jamais venha a saber do seu feito.
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O que é a moral?...É a lei que imponho a mim mesmo, ou
que deveria me impor, independentemente do olhar do outro e de qualquer
sanção ou recompensa esperadas.
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É esse o ponto decisivo: trata-se de se submeter pessoalmente a
uma lei que nos parece valer, ou que deveria valer, para todos."
E escreveu também sobre a sabedoria:
"Para
Platão como para Spinoza, para os estóicos como para
Descartes ou Kant, para Epicuro como para Montaigne ou Alain, a
sabedoria tem de fato muito a ver com o pensamento, com a
inteligência, com o conhecimento, em suma, com certo saber. Mas
é um saber muito particular, que nenhuma ciência
expõe, que nenhuma determinação valida, que nenhum
laboratório poderia testar ou atestar, enfim que nenhum diploma
sanciona. è que não se trata de teoria, mas de
prática. Não de provas, mas de provações.
Não de experimentações, mas de exercícios.
Não de ciência, mas de vida.
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'A sabedoria não pode ser nem uma ciência nem uma
técnica', sublinhava Aristóteles: ela tem por objeto
menos o que é verdadeiro ou eficaz do que o que é bom,
para si e para os outros. Um saber? Claro. Mas um saber viver.
É
o que distingue a sabedoria da filosofia, que seria antes um saber
pensar. Mas a filosofia só tem sentido na medida em que nos
aproxima da sabedoria: trata-se de pensar melhor para viver melhor, e
somente isso é filosofar de verdade.
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A sabedoria é a meta; a filosofia, o caminho.
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Mas numa coisa os filósofos, quase todos em todo caso,
concordam: na idéia de que a sabedoria se reconhece por certa
felicidade, por certa serenidade, digamos por certa paz interior, mas
alegre e lúcida, a qual é inseparável de um
exercício rigoroso sa razão. É o contrário
da angústia, é o contrário da loucura, é o
contrário da infelicidade. É por isso que a sabedoria
é necessária. É por isso que é
necessário filosofar. Porque não sabemos viver. Porque
é preciso aprender. Porque a angústia, a loucura ou a
infelicidade não param de nos ameaçar."