abraham maslow e o amor
No livro "Introdução à psicologia do ser", o psicólogo Abraham Maslow escreveu:
"Amor Interessado e Amor Desinteressado:
A necessidade de amor, tal como é usualmente estudada, por exemplo, por Bowlby, Spitz e Levy, é uma necessidade de deficit. É um buraco que tem de se encher, um vazio em que se despeja o amor. Se essa necessidade curativa não estiver ao alcance do indivíduo, resultará uma grave patologia; se estiver acessível no momento certo, nas quantidades certas e no estilo apropriado, então a patologia será evitada. Estados intermédios de patologia e saúde acompanham os estados intermédios de frustração e saciação. Se a patologia não for muito severa e for percebida suficientemente cedo, a terapia de substituição pode curar. Isso quer dizer que a doença, a “fome de amor”, pode ser curada, em certos casos, suprindo a deficiência patológica. A fome de amor é uma doença de deficiência, como a carência de sal ou as avitaminoses.
A
pessoa sadia, não tendo essa deficiência, não
precisa receber amor, salvo em pequenas e regulares doses de
manutenção, e pode até passar sem elas durante
razoáveis períodos de tempo. Mas se a
motivação é inteiramente uma questão de
satisfação de deficits e, portanto, de
eliminação de necessidades, então ocorre uma
contradição. A satisfação da necessidade
deveria causar o seu desaparecimento, o que
significa que as pessoas que mantêm satisfatórias
relações de amor seriam, precisamente, as menos
suscetíveis de dar e receber amor! Mas o estudo clinico de
pessoas mais sadias, que foram saciadas em sua necessidade de amor,
mostram que, embora precisem menos de receber amor, são as mais
suscetíveis de dar amor. Nesse sentido, são pessoas mais
amantes.
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Já descrevi de forma
preliminar a dinâmica contrastante do S-amor (amor pelo Ser
de uma outra pessoa, amor desinteressado, amor altruísta) e do
D-amor (amor-deficiência, necessidade de amor, amor
egoísta). Neste ponto, desejo apenas usar esses dois grupos
contrastantes de pessoas para exemplificar e ilustrar algumas das
generalizações acima formuladas.
- O S-amor é acolhido na consciência e completamente fruído. Visto que é não-possessivo, e mais admirador do que exigente, não causa perturbações e, praticamente, é sempre uma fonte de prazer.
- Nunca pode ser saciado; pode ser interminavelmente fruido. Usualmente, em vez de desaparecer, cresce e avoluma-se. É intrinsecamente agradável. É mais um fim do que um meio.
- A experiência de S-amor é freqüentemente descrita como idêntica à experiência estética ou à experiência mística e tendo os mesmos efeitos.
- Os efeitos terapêuticos e psicogógicos da experiência de S-amor são muito profundos e generalizados. Semelhantes são os efeitos caracterológicos do amor relativamente puro de uma mãe sadia pelo seu bebê, ou o amor perfeito do seu Deus que alguns místicos descreveram.
- Sem sombra de dúvida, o S-amor é uma experiência subjetiva mais rica, “superior”, mais valiosa, do que o D-amor (que todos os S-amantes também experimentaram previamente). Essa experiência também é relatada pelos meus outros sujeitos mais velhos e mais comuns, muitos dos quais experimentam simultaneamente ambas as espécies de amor em diversas combinações.
- O D-amor pode ser satisfeito. O conceito de “satisfação” dificilmente se aplica ao amor-admiração por outra pessoa digna de admiração e digna de amor.
- No S-amor há um mínimo de ansiedade-hostilidade. Para todos os fins humanos práticos, podemos considerar até que está ausente. Pode haver, é claro, ansiedade-pelo-outro. No D-amor, entretanto, devemos esperar sempre um certo grau de ansiedade-hostilidade.
- Os S-amantes são mais independentes um do outro, mais autônomos, menos ciumentos ou ameaçados, menos exigentes, mais individuais, mais desinteressados, mas, simultaneamente, também mais pressurosos em ajudar o outro no sentido da individuação, mais orgulhosos de seus triunfos, mais altruístas, generosos e estimulantes.
- O S-amor torna possível uma percepção mais verdadeira e mais penetrante do outro. É uma reação, como já enfatizei, que tem tanto de cognitiva quanto de emocional-volitiva. Isso é tão impressionante e tem sido tão freqüentemente validado pela experiência subseqüente de outras pessoas que, longe de aceitar o lugar-comum trivial de que o amor cega as pessoas, tornei-me cada vez mais propenso a pensar que a verdade é precisamente o oposto, isto é, que o não-amor nos cega.
- Finalmente, posso dizer que o S-amor, num sentido profundo, mas demonstrável, cria o parceiro. Dá-lhe uma imagem e uma aceitação do próprio eu, um sentimento de dignidade no amor, o que lhe permite crescer. A verdadeira questão é se o pleno desenvolvimento do ser humano é possível sem ele."